A Assembleia Mundial das Democracias, das Mulheres e dos Povos, Movimentos e territórios em Resistências foram marcados por uma onda de protestos e indignação.
Por Maria Fernanda Arruda – de Salvador
Em Salvador, ao longo da última semana ,aconteceu o Fórum Social Mundial que movimentou a cidade com a presença de movimentos sociais de todas as modalidades e partes do mundo; com uma forte presença de mulheres, comunidades de matriz africana, indígena, somadas às tantas outras manifestações de coletivos, ativistas que dariam sentido ao lema, “resistir é criar, resistir é transformar”, nas tantas rodas de conversa programadas para os cinco dias, entre a solidariedade e o luto.
Foram cinco dias de intensos debates, tentando fazer um balanço dos retrocessos impostos pelo vendaval neoliberal, pois o assassinato da vereadora, negra, favelada e lésbica, Marielle Franco e do motorista, Anderson Gomes, silenciaria o início das atividades do dia 15 e alteraria a programação da parte da tarde. O mesmo dia da chegada do Lula para seu ato solidário em defesa das democracias, no distante estádio de Pituaçu.
A Assembleia Mundial das Democracias, das Mulheres e dos Povos, Movimentos e territórios em Resistências foram marcados por uma onda de protestos e indignação pelo assassinato da Marielle e o Anderson. Uma tentativa de silenciar todas as pessoas que lutam por direitos e contra a violência policial deliberada nas favelas e periferias.
Golpe
O evento das Democracias teve a participação do ex-presidente Lula, reunindo também convidados de religiões de matriz africana, povos indígenas, coletivos femininos, artistas, sindicalistas, representações sociais e partidárias da América latina, Caribe, África e Europa, unidos em defesa da democracia, no continente e no mundo.
Único representante europeu, o deputado francês, Eric Coquerel prestou solidariedade a Marielle, Dilma, Lula e aos povos da América Latina. Já o ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya alertou para a necessidade de identificar os inimigos na AL e de unir forças contra o imperialismo, além de agradecer ao Lula pelo gesto do governo brasileiro à época da tentativa de golpe em 2009.
O governador Rui Costa saudou todos os visitantes em nome do povo baiano, para assim apresentar a liderança mais esperada do evento deste final do dia, Luis Inácio Lula da Silva. Antes falaria Manuela D’Ávila segurando sua filha de 2 anos. Lula, que antes participara do Encontro Parlamentar Internacional, também alertou para os interesses externos presentes neste momento na AL, um sustentáculo de movimentos de desestabilizações institucionais. Pediu ainda união dos partidos de esquerda em defesa da democracia brasileira.
Marielle
A Assembleia Mundial das Mulheres foi na histórica praça do Terreiro de Jesus, no Pelourinho, centro de Salvador, símbolo da resistência a violência ao povo negro. Contou com a presença de sírias, francesas, africanas, curdas, venezuelanas, negras, indígenas, católicas, candomblecistas, jovens, idosas, crianças, teve o tom de unidade feminista e fez ecoar com força o nome e a luta de Marielle Franco, militante, negra e lésbica.
Lideranças partidárias como Manuela D’ávila e Sônia Guajajara, candidatas à disputa presidencial, subiram para afirmar e refirmar a necessidade de construir um movimento unitário contra a violência generalizada envolvendo as tantas Marielles espalhadas pelo país, continente e mundo. Um documento de convergência construído no FSM sintetizou a indignação mundial das mulheres.
Ato interreligioso
Com concentração inicial na Candelária e finalizada na Cinelândia o ato contou com a presença de representantes católicas, do judaísmo, das religiões de matriz africana, dos seguimentos protestantes, além de artistas, parlamentares, ativistas. Reuniu em torno de 100 mil pessoas, para homenagear a Marielle e o Anderson brutalmente assassinados por balas de origens institucionais, que esqueceram um FSM em plena efervescência, na cidade de Salvador e propagador de atos em todo o mundo.
De fato Marielle e Anderson vivem em nossos corações para fortalecer a luta coletiva por uma sociedade mais justa, solidária e igualitária. Marielle Franco lembrará sempre a luta pela descriminalização do aborto, contra assédio a mulheres, o direito à favela e à periferia, o encontro de mulheres.
Por Maria Fernanda Arruda é escritora e colunista do Correio do Brasil.